Eu tinha 10 anos , acabava de entrar num colégio escolhido à minha revelia e iniciava o temido quinto ano sem nenhum dos amigos da primária por perto. Estranhei tudo . A natureza gigante que envolvia o meu estabelecimento de ensino anterior era agora substituído por betão, azulejos em altura e um recreio de cimento onde não era aconselhado correr pela probabilidade de esfolar os joelhos mesmo antes de alcançar uns míseros 100 metros. O ambiente era da cor do betão, os professores eram muitos, eram altos e rígidos como o cimento. Os colegas de turma não tinham brincado na mata como eu, não tinham jogado à bola e à macaca em campos de futebol de perder a vista, não tiveram um lago cheio de patinhos que faziam qua qua debaixo das copas das árvores gigantes que ofereciam sombra a centenas de meninos e meninas na primavera e no verão. Estes novos colegas, por sua vez, viviam habituados a muitas salas distribuídas por muitos andares e apenas a duas saídas: o portão da frente...
Na porta do frigorífico, podemos afixar a lista de compras, a lista das emoções, a contagem das perdas e a soma das lições de cada dia. Bem-vindo ao meu frigorífico!