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Mensagens

A mostrar mensagens de 2015

Uma família muito moderna.

Enteados. A bem da verdade a língua portuguesa não foi simpática com este laço familiar. Nome sem muita doçura associada tal como tem a palavra "filho", com tamanha carga de afecto e responsabilidade.  É injusto. Os enteados não devem ser menos importantes que os filhos. Devem e serão sempre especiais também, porque a bem dizer são filhos de alguém nosso, apenas não são os nossos.  Mas será feita justiça ao dizermos que não são nossos? Madrastas e padrastos que os receberam na sua vida não são uma peça de lego que se coloca e retira de quinze em quinze dias.  Sejamos honestos, recebê-los como parte da pessoa que amamos (tardiamente achamos nós, porque se tivesse sido mais cedo eles seriam nossos filhos e pudessemos nós mudar isso éramos ainda mais felizes...admitam e deixem-se de tretas!), criar rotinas familiares, estar lá quando choram, quando riem, quando morrem de sono ou morrem de fome, esperar a sua chegada com planos para os dias seguintes, sent...

Eu e tu em Marrocos.

Eu vi o fim do mundo. Ao chegar, Abdhul esperava-nos, sorridente e humilde.  "Salam! parles vous francais? how are You?" Nesta tentativa cosmopolita de nos ouvir, agarrou as malas e voltou à fala inglesa com sotaque de Alá dizendo em modo feliz "Follow me!" Perdi a conta aos passos, perdi a conta as vezes em que que viramos à esquerda, as vezes em que viramos à direita, às crianças descalças, aos burros que puxavam carroças, às motas em ziguezague, às bicicletas carregadas de especiarias e as vezes que Abdhul sorria para nós sem largar o passo acelerado como se quisesse encurtar o fim do mundo até ao Riad.  Era a última porta de uma rua escura, estreita e fresca. Obrigou-nos a olhar e a ler a placa dourada pregada naquela porta de madeira incrivelmente trabalhada "Riad Ambre et Epices, voilà!" Abriu a porta num som de quem abria um cofre e voilà: o fim do mundo acabou! O silêncio e a paz eram a banda sonora de um paraíso de luxo, outrora casa d...

Sabes a sorte que tens?

Sexta-feira, final do dia ainda com sol. O bastante para aquecer o coração. Cansada, com a missão cumprida, embora ligeiramente desapontada com os últimos dias, triste com a natureza humana que as vezes teima em não evoluir, desejosa de voltar a casa e sedenta do meu porto de abrigo. Cheguei  estação, faltavam apenas 9 minutos para entrar no comboio. Foram só 9 minutos, os suficientes para me deixar de coração apertado durante as 3 horas de viagem. Um labrador branco deitado no chão, cativou o meu olhar pelo seu ar doce e sereno.  Em segundos percebi que este anjo da ternura era um guia de uma menina aparentemente tão doce quanto ele.  Ela não  teria mais do que vinte anos, cabelos longos cor de mel, vestia jeans e t-shirt, nas costas uma mochila com um peso visivelmente considerável, na mão direita a trela daquele que parecia ser o seu único amigo, e no rosto, lágrimas. Lágrimas difíceis de controlar que lhe faziam tremer o tronco. Percebi nesse momento a verdadeira...