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Mensagens

Não te equivoques, o passado não foi bom.

  Eu tive o privilégio de nascer em 1978. Não vi o meu pai ser perseguido pela PIDE, nem precisar de licença para ter um isqueiro no bolso, acessório imperioso para um fumador de cachimbo, e deixem que vos diga que era um  cachimbeiro cheio de classe. Não conheci a censura na voz, na escrita ou nos gostos avant-garde para a época.  Sempre que passei por escolas com duas portas de entrada, questionava os meus pais porque raio meninos e meninas não poderiam aprender e brincar juntos. A mim, nunca me obrigaram a cantar o Hino Nacional todas as manhãs antes de aula começar. (Bem, quanto a este detalhe, não seria mau de todo, talvez até se teriam evitado alguns embaraços no MotoGP em 2022...) Ainda convivi com o Jesus Cristo pregado à cruz na parede da sala de aula, mas apenas porque frequentei colégios católicos. Louvado seja o Senhor que me poupou de dar de frente todos os dias com a fotografia de Salazar. Eu pude usar bikinis desde o primeiro dia em que pousei os me...
Mensagens recentes

Ser mãe ou amiga?

O tema inquieta-me , porque me deixa vulnerável perante a possibilidade de estar a fazer tudo errado. Fico aflita, no sentido mais aflito da palavra porque temo as consequências de tudo o que fiz errado puderem tornar derradeiro um final infeliz e irrecuperável. Se calhar, se pudesse recomeçar bem lá no início da maternidade deveria fazer tudo diferente. Se calhar devia, mas temo, com toda a certeza, que seria incapaz.  Não me querendo desculpar mas aproveitando para me justificar, pertenço à geração X , ainda que do fim da mesma (1978), isto é, aquela que roça os Millennium’s. Aquela geração que jamais se repetirá, dizem os saudosistas.  Nascemos na era analógica mas fomos suficientemente inteligentes para aprender o digital.  Vivemos muito perto do abismo , sem cadeirinhas de bebé isofix ou cintos de segurança automóvel.  Saíamos de casa de manhã e voltávamos ao fim do dia, sem que os nossos pais sentissem necessidade de nos reportar à PSP como desaparecidos ....

Quando o silêncio castiga

Eu tinha 10 anos , acabava de entrar num colégio escolhido à minha revelia e iniciava o temido quinto ano sem nenhum dos amigos da primária por perto.  Estranhei tudo .  A natureza gigante que envolvia o meu estabelecimento de ensino anterior era agora substituído por betão, azulejos em altura e um recreio de cimento onde não era aconselhado correr pela probabilidade de esfolar os joelhos mesmo antes de alcançar uns míseros 100 metros.  O ambiente era da cor do betão, os professores eram muitos, eram altos e rígidos como o cimento. Os colegas de turma não tinham brincado na mata como eu, não tinham jogado à bola e à macaca em campos de futebol de perder a vista, não tiveram um lago cheio de patinhos que faziam qua qua debaixo das copas das árvores gigantes que ofereciam sombra a centenas de meninos e meninas na primavera e no verão. Estes novos colegas, por sua vez, viviam habituados a muitas salas distribuídas por muitos andares e apenas a duas saídas: o portão da frente...

Filhos

Os filhos não são nossos. São do mundo . É preciso coragem , para quem vai e para quem fica.  Coragem para viver a vida que se procura, resiliência para superar as curvas quando o caminho deixa de ser uma reta e esperança neste mundo gigante que promete fazê-los mais felizes do que a nossa rua algum dia foi capaz. Coragem para ver partir, resiliência para suportar a saudade e esperança que esse mundo gigante seja quase tão bondoso quanto o nosso colo. "Filho é um ser que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem”  Saramago tinha razão, sempre chegará a hora de devolver o que nos foi emprestado. Obrigada meu amor por me ensinares a ser corajosa.

O Telefonista é vosso. Lançamento - Porto, 14 de junho de 2025

O dia que apresentei o meu primeiro livro ao mundo. E que dia magnifico! Ao chegar à livraria Fnac nem queria acreditar. Amigas de infância, amigas da idade adulta, família, desconhecidos, vieram de perto, outros de longe, só para me ouvir. Eu que adoro palavras, temo não conseguir explicar a alegria imensa que senti. O amor que recebi neste dia ficará para sempre em mim.  Falei genuinamente sobre o livro, sobre a razão da sua existência e todo o processo da escrita.  Expus sentimentos sem pudor ou receio, porque à minha frente via uma plateia emocionada e em silêncio a receber toda a minha verdade. Depois, mergulhei num mar de autógrafos e abraços. Ouvi tantas palavras de amor e dei conta que, sem saber, marquei a vida de tantos que passaram pela minha. Às vezes, o amor está onde menos se espera. Mil vezes obrigada💙                              

O telefonista

O meu sonho tornado realidade: O Telefonista. O meu livro, que a partir de hoje deixa de ser só meu, será também de quem o quiser.  Uma história verídica. A minha. Precisei de a escrever para o meu coração sossegar.  Agora que está disponível para a partilhar com o mundo, o meu coração rebenta de alegria, entusiasmo e muita adrenalina. Espero que gostem.🩷

A idade dá, mas também tira

A idade oferece  experiência, sagacidade e muita serenidade que contrasta com a pressa e a inquietude de outrora. Mas também nos tira , de mansinho e com pinças cirúrgicas que levantam pensos que só percebemos ter quando eles se descolam da pele, devagar.  A juventude soma amigos, momentos velozes de alegria, projectos e conquistas. Anos imunes a perdas. É uma conta de somar sem fim à vista, que um dia vira subtração , lá mais para a frente.  Percebemos o dia em que lá chegamos quando abrimos o calendário e nos deparamos com o lembrete do aniversário daquela amiga que partiu há poucos dias.  Numa fração de segundo, estamos a clicar o botão direito do rato e ordenamos apagar .  Repetimos a ordem à lista de contactos. “Tem a certeza que deseja apagar este contacto?” - Claro que não! Mas do que me serviria um número de telemóvel que já não toca, que por agora esbarra no voice mail até ao dia em que se torna numero não atribuído? Apagar. Está feito.  De...