A idade oferece experiência, sagacidade e muita serenidade que contrasta com a pressa e a inquietude de outrora. Mas também nos tira, de mansinho e com pinças cirúrgicas que levantam pensos que só percebemos ter quando eles se descolam da pele, devagar.
A juventude soma amigos, momentos velozes de alegria, projectos e conquistas. Anos imunes a perdas. É uma conta de somar sem fim à vista, que um dia vira subtração, lá mais para a frente.
Percebemos o dia em que lá chegamos quando abrimos o calendário e nos deparamos com o lembrete do aniversário daquela amiga que partiu há poucos dias.
Numa fração de segundo, estamos a clicar o botão direito do rato e ordenamos apagar.
Repetimos a ordem à lista de contactos. “Tem a certeza que deseja apagar este contacto?” - Claro que não! Mas do que me serviria um número de telemóvel que já não toca, que por agora esbarra no voice mail até ao dia em que se torna numero não atribuído?
Apagar. Está feito.
Depois, ficamos sós em frente ao monitor, de mãos imóveis enquanto os pensamentos se atropelam. É tão grande a lista de tudo o que essa amiga irá perder, mas o mais provável é que a maior perda seja a nossa, que apagamos o seu contacto sem o querer.

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