Ser mãe de adolescente é ser convocada, não quando se quer, mas quando menos se espera; é oferecer os cromos do Lidl à criança atrás de nós na fila do supermercado, porque lá em casa o seu único destino seria o caixote do lixo; é intuir que a nossa gaveta da maquiagem foi assaltada silenciosamente; é agonizar com a música da Bershka e sentir uma saudade nostálgica das idas aos ToysR’us, daquelas repletas de pedinchices, puzzles didácticos, amuos, beicinhos e barbies de pochete e tacão alto.
Ser mãe de adolescente é sentir-se claramente a mais na friendzone, é perceber que a boleia de carro é substituída com preferência evidente por uma viagem de metro rodeada de amigos; é esforçar-se por entender o dialecto adoptado pela criatura que agora habita lá em casa, sem se sentir o sistema nervoso central a colapsar; é perceber quando tem de recuar porque o mau humor se instalou e quando tem de se aproximar porque o barco do amor atracou e desfrutar do desembarque o mais que conseguir, registá-lo fotograficamente (apenas) na mente para mais tarde recordar. Está aberta a época em que as selfies agarradas à mãe apenas são permitidas exclusivamente por motivos de força maior.
Ser mãe de adolescente é o início da solidão, é o estágio para a síndrome do ninho vazio, aquele monstro implacável que vai entrar de chancas lá mais para a frente. É a vida a comunicar que já não fazemos lá grande falta e o nosso coração a segredar que fazemos mais falta do que nunca. É andar de pezinhos de lã para não afugentar a cria. É aparecer na hora certa para o colo e para limpar as lágrimas. É simplificar-lhes os problemas de hoje, que (temos nós a certeza) amanhã já não terão sentido e sair de fininho sem dar muito nas vistas.
Comentários
Enviar um comentário