A segunda mulher chega, ainda não abriu a boca, e já apresenta inúmeras contra-indicações.
Significa navegar em velocidade cruzeiro, sem paragens, sem abraços em portos de abrigo até ao dia em que o navio toque o horizonte.
E, inevitavelmente, existem dias em que o navio vai cheio e a viagem é solitária.
Ser segunda mulher implica a coragem de correr o risco quando se sabe como é fácil falhar.
-"Porque se calhar é mais uma, porque as crianças ainda estão muitos traumatizadas e isto não vai ser nada bom, porque ela nem sabe onde se vai meter, porque é vegetariana e cá em casa quem não é para comer não é para trabalhar..."
Depois de ultrapassada a fase do-deixa-ver-no-que-dá já todos parecem mentalizados! - "Olha afinal veio para ficar, até tem sido amorosa, eles estão tão felizes, quem diria!"
Os enteados gostam dela mas se os pais estivessem juntos era muito melhor, os cunhados e cunhadas, sogros e afins já acrescentam mais um prato na mesa sem questionar, mas ela não é a mãe das crianças, por isso acho bem que não opine, os sobrinhos nunca lhe chamarão tia, porque ela nem os viu nascer, calha bem!
Na altura das festas é uma chatice, não podemos convidar a primeira e a segunda, ora que maçada!
O tempo passa, aliás o tempo voa, e a segunda mulher cuida de quem não é seu por direito, ampara quem a procura, ouve quem pouco conversou com a primeira e espera que o tempo lhe reconheça qualidades, que acabe com as comparações e a trate como um deles mesmo sem sobrenome.
Ser a segunda mulher significa ocupar um lugar que é seu porque tão simplesmente o quis aceitar.
Significa amar sem receber astuto em troca.
Significa navegar em velocidade cruzeiro, sem paragens, sem abraços em portos de abrigo até ao dia em que o navio toque o horizonte.
E, inevitavelmente, existem dias em que o navio vai cheio e a viagem é solitária.
A grandeza ou a pequenez da segunda mulher estará no futuro. Só o tempo o dirá.
Ser a segunda mulher significa amar sem ponto e vírgula, amor à prova de favoritismos, amor surdo, cego e cheio de tacto.
A bem da verdade, se existe uma segunda mulher, provavelmente a primeira falhou.
Ou talvez não.
Ser segunda mulher implica a coragem de correr o risco quando se sabe como é fácil falhar.
Não é para todas, é um facto!
Que a segunda aprenda com os erros da primeira e que a primeira não volte a repeti-los, se algum dia a coragem chegar para se tornar a segunda.

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