Entrei nos 40 com o mesmo espírito da festa de aniversário, onde nada faltou incluindo os ternurentos balões dourados em forma de quatro e zero e a faixa de Miss Forty & Sexy.
Despreocupada, em harmonia com o meu reflexo no espelho e principalmente grata pelo caminho até ali, dancei e ri como há muito tempo não fazia. Tudo vivido na melhor companhia. Para a posteridade ficaram as fotografias que registaram a festa. Eu até mostrava, mas ficaram tremidas, se é que me entendem!
Tranquila pelo que viria lá fui recebendo as novidades dos entas sem perder a calma.
A carta da seguradora informava com paninhos quentes que o seguro de saúde iria aumentar duzentos euros por ano. Só duzentos! Respirei fundo.
Na verdade, respirar (pelo menos pelo nariz) também já não anda a ser fácil. Que o digam as visitas ao otorrinolaringologista, os exames complementares aos seios perinasais e os sprays enfiados nas narinas religiosamente às horas recomendadas.
Tenham calma. Isto não é o que parece! Esta é só a primeira especialidade médica com marcações na minha agenda actual.
A ginecologista já fazia parte da minha vida, mas agora temos tudo para criar uma bela amizade. A minha carga hormonal é tão grande que já dei por mim a implorar pela menopausa. Felizmente a senhora doutora foi bastante competente e mostrou às hormonas quem manda aqui.
Para além da eco mamária do costume, agora vais gramar a mamografia anual e nem pias. Quer queiras quer não, vão esmagar-te as mamas, de frente, de lado, de todos os ângulos que nem sabias que existiam, até elas ficarem idênticas às bolachas americanas, grandes e espalmadas, a embelezar sempre montras das pastelarias, mas que ninguém compra. No fim, quando o mamógrafo inicia a descompressão será sempre inevitável olhar desconfiada para ambas, com a quase certeza que depois daquele holocausto mamário, só por um milagre elas conseguirão voltar à sua forma inicial.
Um destes dias, aqui a quarentona foi obrigada a interromper uma aula de pilates porque a lombar quis dar um ar da sua graça. A bem da verdade, a última vez que visitei um ortopedista teria cerca de 3 anos. Levada pela minha mãe, na altura, bastante angustiada porque eu só caminhava em bicos de pés. O diagnóstico foi bastante promissor «não se apoquente mãe, na pior das hipóteses terá aqui uma brilhante bailarina!». Não se confirmou. Uma pena.
E eis que chega mais um presentinho dos quarenta: abaulamento da L4 e L5. Só esta denominação fez-me sentir uma autoestrada da Brisa em processo de intervenção de obras de melhoria sem data final da obra definida. Tem sido um festim, uma loucura nas TAC’s, nas ressonâncias, nas massagens e fisioterapias. Ibuprofeno 600, emplastros e confettis com fartura.
Final do dia, relaxo no sofá. Finalmente. Cortisona no nariz, emplastro nas costas, copinho de água na mão direita e blister do analgésico na esquerda. Tudo calmo, portanto. Fecho os olhos e sinto uma arritmia ou uma taquicardia ou qualquer coisa terminada em ia.
Isso! Cardiologia! Faltava-me esta! Agora já não.
ECG mais prova de esforço. Haviam de ver aqui a quarentona a correr no tapete, inclinação 10, velocidade 8 e ainda assim a conseguir responder às perguntas simples do médico «Tudo bem aí?» A 30 segundos do fim ainda consegui avisar com voz de psicopata «eu não vou aguentarrrrrr muitoooooo ma ma mais!»
Saí satisfeita. No meio de monitores, elétrodos e braçadeira da pressão arterial ainda dei uma espreitadela às calorias perdidas indicadas no ecrã: 200 calorias. Perfeito.
Missão cumprida. Nesse dia já não apareci no ginásio.
Hoje claramente estou uma expert! Sei tudo. Perguntem-me! Sei de cor as melhores clínicas e hospitais com os convenientes acordos com o sistema nacional de saúde ou qualquer companhia de seguros deste século. Sei identificar qualquer especialista de gabarito e ainda mexer uns cordelinhos para encurtar a lista de espera de consulta. Sei onde se arranjam marcações de exames em 24h, consultas de urgências, análises para ontem.
Enfim, sinto-me a minha avó.
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