Avançar para o conteúdo principal

Nós em Amesterdão. (Ou em qualquer outro lugar)

Fomos à Amesterdão comemorar 1825 dias juntos. 

Poderia falar em 5 anos mas prefiro contar cada um dos dias, ou melhor, todos. 
Os bons, os maus, os duros, os serenos, os que nunca acabam ou os que nunca deveriam acabar.

Internamente, quando nos sentamos na mesa da contabilidade do amor, multiplicamos os dias reais por dois. Ao contrário do que nos diz o calendário os primeiros 2 anos valeram por 4, visto termos atingido o record do Guiness ao estarmos juntos, virtude das circunstâncias da altura, 24 sob 24 horas. 

Foi a prova da resistência, foi o alicerce mais bem construído desta vida a dois. 
Foi o adubo, que nunca mais separamos do regador e que prometemos encher todos os dias. 

Quando descobrimos o amor já bem adultos, depois de perdas e erros, somos mais cautelosos, mais tolerantes, mais maduros. 

A bem da verdade, se for mesmo amor, ninguém quer falhar outra vez.

Portanto, na verdade fomos à Amesterdão comemorar 2555 dias. 

Foi em Amesterdão, mas poderia ter sido em qualquer parte do mundo. 

O local não é importante, temos apenas a mania tonta de pisarmos juntos todas as cidades onde nos levem todos os voos mais ou menos económicos, ainda que cada um já lá tenha estado sozinho. 

Sozinho não é juntos. 
E isso muda tudo. 

Metaforicamente, vejo-me  vestida de Julieta com os dedos entrelaçados nos dele enquanto cravamos as nossas iniciais nas árvores imponentes de cada cidade por onde andamos fugidos.

2555 dias passaram eu conheço-te como ninguém. 

Percebo-te cada silêncio, cada franzir de sobrancelha, cada movimento corporal sem que digas uma palavra. 

Sei claramente, o que te põe triste, pensativo, refém das mágoas que outros te causaram, o que te faz vibrar, o que te torna mais forte, o que te relaxa. 
Sem dizeres uma única palavra. 
Não precisas.
Nunca precisarás.

Sei entender o que para ti é importante mesmo quando aos olhos de outros, não estás nem aí! 
Mas eu sei.

Tenho a certeza de que, saberás de mim tão bem quanto sei de ti. 
Percebes tudo. 
Ainda que seja apenas um suspirar diferente do dia anterior. 

Sabes tudo de mim e para além de mim. E quanto mais sabes mais parece que queres ficar. 

Eu só quero que fiques, porque 2555 dias são apenas o começo. 

Falta-nos entrelaçar os dedos em muitas cidades, faltam-nos muitas conversas no silêncio, falta-nos resolver juntos todos os problemas que a vida ainda irá trazer, falta-nos saborear o amor em cada copo de vinho tinto, falta-nos ser o GPS um do outro, quando precisarmos de decidir qual o caminho, falta envelhecermos juntos, e depois de velhos, falta-nos apreciar o resultado da nossa pegada. 

Imagino-nos felizes com o resultado. 

Tenho a certeza que nessa altura viverei em paz com as rugas e os cabelos brancos. 
Por fim, a escravidão da beleza será passado e tu dirás que estou igual: bonita, como só tu sempre viste.

É isto a vida a dois, é isto amar todos os dias a mesma pessoa, certo?


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Residência alternada, amor permanente.

Quando apenas 182,5 dias do ano são contigo, metade da minha vida fica suspensa, à tua espera, durante outros longos e intermináveis 182,5 dias. Por amor abdico , contas feitas, de cinquenta por cento, para que vivas um pai e uma mãe, por inteiro, na percentagem total que te é devida.  Na matemática da vida, por não te ser justo subtrair, prefiro somar-te , dar-te o que é teu por direito à nascença, multiplicar-te momentos, afetos, casas, gente, partilhas, rotinas. Se para ti procuro somas e multiplicações, reservo para mim as subtrações e divisões.  Se isto não é amor, digam-me o que é! Sempre odiei matemática, temia talvez a dureza das equações da vida adulta. Dez anos depois, és claramente a expertise-de-como-viver-e-amar-em-dobro. Só eu sei e sinto, como precisas dessas duas metades para seres inteira, como absorveste dois lares e cada idiossincrasia de cada coração que te rodeia. Ainda assim, a cada sexta-feira da troca de ninho, ainda hoje a sinto como se fosse a...

Mãe de adolescente

Ser mãe de adolescente é ser convocada, não quando se quer, mas quando menos se espera; é oferecer os cromos do Lidl à criança atrás de nós na fila do supermercado, porque lá em casa o seu único destino seria o caixote do lixo;   é intuir que a nossa gaveta da maquiagem foi assaltada silenciosamente; é agonizar com a música da Bershka e sentir uma saudade nostálgica das idas aos ToysR’us, daquelas repletas de pedinchices, puzzles didácticos, amuos, beicinhos e barbies de pochete e tacão alto. Ser mãe de adolescente é sentir-se claramente a mais na friendzone , é perceber que a boleia de carro é substituída com preferência evidente por uma viagem de metro rodeada de amigos; é esforçar-se por entender o dialecto adoptado pela criatura que agora habita lá em casa, sem se sentir o sistema nervoso central a colapsar; é perceber quando tem de recuar porque o mau humor se instalou e quando tem de se aproximar porque o barco do amor atracou e desfrutar do desembarque o mais que c...

Ser mãe ou amiga?

O tema inquieta-me , porque me deixa vulnerável perante a possibilidade de estar a fazer tudo errado. Fico aflita, no sentido mais aflito da palavra porque temo as consequências de tudo o que fiz errado puderem tornar derradeiro um final infeliz e irrecuperável. Se calhar, se pudesse recomeçar bem lá no início da maternidade deveria fazer tudo diferente. Se calhar devia, mas temo, com toda a certeza, que seria incapaz.  Não me querendo desculpar mas aproveitando para me justificar, pertenço à geração X , ainda que do fim da mesma (1978), isto é, aquela que roça os Millennium’s. Aquela geração que jamais se repetirá, dizem os saudosistas.  Nascemos na era analógica mas fomos suficientemente inteligentes para aprender o digital.  Vivemos muito perto do abismo , sem cadeirinhas de bebé isofix ou cintos de segurança automóvel.  Saíamos de casa de manhã e voltávamos ao fim do dia, sem que os nossos pais sentissem necessidade de nos reportar à PSP como desaparecidos ....