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Mensagens

Eu e tu em Marrocos.

Eu vi o fim do mundo. Ao chegar, Abdhul esperava-nos, sorridente e humilde.  "Salam! parles vous francais? how are You?" Nesta tentativa cosmopolita de nos ouvir, agarrou as malas e voltou à fala inglesa com sotaque de Alá dizendo em modo feliz "Follow me!" Perdi a conta aos passos, perdi a conta as vezes em que que viramos à esquerda, as vezes em que viramos à direita, às crianças descalças, aos burros que puxavam carroças, às motas em ziguezague, às bicicletas carregadas de especiarias e as vezes que Abdhul sorria para nós sem largar o passo acelerado como se quisesse encurtar o fim do mundo até ao Riad.  Era a última porta de uma rua escura, estreita e fresca. Obrigou-nos a olhar e a ler a placa dourada pregada naquela porta de madeira incrivelmente trabalhada "Riad Ambre et Epices, voilà!" Abriu a porta num som de quem abria um cofre e voilà: o fim do mundo acabou! O silêncio e a paz eram a banda sonora de um paraíso de luxo, outrora casa d...

Sabes a sorte que tens?

Sexta-feira, final do dia ainda com sol. O bastante para aquecer o coração. Cansada, com a missão cumprida, embora ligeiramente desapontada com os últimos dias, triste com a natureza humana que as vezes teima em não evoluir, desejosa de voltar a casa e sedenta do meu porto de abrigo. Cheguei  estação, faltavam apenas 9 minutos para entrar no comboio. Foram só 9 minutos, os suficientes para me deixar de coração apertado durante as 3 horas de viagem. Um labrador branco deitado no chão, cativou o meu olhar pelo seu ar doce e sereno.  Em segundos percebi que este anjo da ternura era um guia de uma menina aparentemente tão doce quanto ele.  Ela não  teria mais do que vinte anos, cabelos longos cor de mel, vestia jeans e t-shirt, nas costas uma mochila com um peso visivelmente considerável, na mão direita a trela daquele que parecia ser o seu único amigo, e no rosto, lágrimas. Lágrimas difíceis de controlar que lhe faziam tremer o tronco. Percebi nesse momento a verdadeira...

O meu amor

O meu amor vive de ternura e reboliço.  Vive de absolutos e de abraços que trespassam. O meu amor vive com a alma e só repousa no colo do meu sangue quente.  O meu amor promete-me a vida e a vida depois da morte. O meu amor sobressalta-me, acorda-me, adormece-me. O meu amor chega-me, transborda-me. O meu amor dá-me sonhos, o meu amor faz-me o caminho. O meu amor não tem prazo, não tem fim. O meu amor és tu.

A segunda mulher

A segunda mulher chega, ainda não abriu a boca, e já apresenta inúmeras contra-indicações. -"Porque se calhar é mais uma, porque as crianças ainda estão muitos traumatizadas e isto não vai ser nada bom, porque ela nem sabe onde se vai meter, porque é vegetariana e cá em casa quem não é para comer não é para trabalhar..." Depois de ultrapassada a fase do-deixa-ver-no-que-dá já todos parecem mentalizados! - " Olha afinal veio para ficar, até tem sido amorosa, eles estão tão felizes, quem diria!" Os enteados gostam dela mas se os pais estivessem juntos era muito melhor , os cunhados e cunhadas, sogros e afins já acrescentam mais um prato na mesa sem questionar, mas ela não é a mãe das crianças, por isso acho bem que não opine , os sobrinhos nunca lhe chamarão tia, porque ela nem os viu nascer, calha bem! Na altura das festas é uma chatice, não podemos convidar a primeira e a segunda, ora que maçada! O tempo passa, aliás o tempo voa, e a segunda mulher cui...

O princípio do nosso tudo

Porque já te amava antes de te conhecer em cada onda esperei que chegasses Voei ao tempo que ainda não era nosso Criei em mim o amor e a saudade do que viria Renasci na esperança quando te materializaste O relógio parou e eu continuei a contar cada segundo e por cada minuto que esgotava,  acreditei que todas as horas  somavam os dias de uma incrédula espera Só o tic-tac do nosso caminho deu corda à vida e hoje juntos vemos a chegada de cada onda, mas nada esperamos porque nos basta ter a mesma areia debaixo dos pés.

Quase tudo o que te queria dizer

Nestes teus tenros sete anos queria sentar-te ao meu lado e dizer-te tudo o que poderia dizer-te durante uma vida inteira.  Mas na incerteza de ter ou não esse tempo queria resumir-te a vida , queria fazer-te todos os avisos e alertas e queria que me ouvisses como se tivesses trinta anos e registasses cada detalhe , por que é em cada pormenor que te constróis que te fortaleces, que te proteges. E como queria eu proteger-te de tudo de uma só vez.  É um desejo, por vezes, angustiante, de te querer contar as verdades e as mentiras deste mundo . Preparar-te, tornar-te mel e aço e dotar-te de uma imensa clareza para que em momento algum duvides daquilo que tens de ser.  Saberes que umas vezes terás que inundar de mel tudo e todos em teu redor, outras vezes, deverás ser aço sem vergar e que nunca o peso deste te impeça de voar e partir para qualquer lugar que te faça mais feliz. Queria que esse teu corpo irrequieto sossegasse uns instantes...

Sou eu.

O meu sangue não é azul* mas também não é de barata. Eu já não me iludo mas ainda me desiludo . Quando me levam ao limite, desligo . A única coisa capaz de me cansar é ter que lidar com uma alma que não evolui. Sou corrosiva com quem quer parecer e não é. Sou intolerante à sacanice e alérgica a gente "pequena". Já não vivo os problemas dos outros como se fossem meus mas ainda me deixo incomodar. Sou incapaz de vingança por acreditar que a vida sempre acaba por tratar do assunto com requintes de malvadez que eu jamais conseguiria ter. Sou a rapariga do tudo ou nada, há quem de mim tenha tudo e há quem de mim não tenha nada. Abomino bajulice ou vaidades doentias. Identifico um lambe-botas, tranquilamente num raio de 10km. Apoio sempre quem erra pela primeira vez, mas à segunda, avanço . Repetir o mesmo erro deixa de  ser desconhecimento e passa a ser opção. Já não me enquadro. Perdoo mais facilmente do que peço desculpa. Uso o...