Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

Só os fortes desistem.

Ao contrário daquilo que nos dizem desde pequeninos, desistir não é o mais fácil. É o mais difícil e não é para todos! Nos tempos em que passávamos horas sentados na carteira da escola e ainda mal chegávamos com os pés ao chão, ouvíamos adultos discursar sobre os mais fortes, os tais que nunca desistiam, aqueles que persistiam a todo o custo, os valentes que nunca baixavam os braços, porque a bem da verdade, dos fracos não rezava a história. Fomos somando anos à medida que os pés iam chegando ao chão, fomos ganhando couraça, fomos perdendo as ilusões do tempo da carteira de escola, fomos caminhando, tantas vezes contrariados, tantas vezes desanimados. Quantos de nós chegamos onde não queríamos? Quantos de nós erramos no caminho? A quantos de nós os planos saíram furados? Desistir é ter a coragem de não querer mais. Não querer mais um emprego que nos inferniza, não querer mais uma amizade que nos intoxica, não querer mais um casamento que nos amargura. Desistir é...

Sete anos depois de ti

                                                                                                          30 de Março de 2017 Ao meu pai Avenida das Estrelas, nº ∞ 0000-000 Lugar da Saudade Pai, Há sete anos que mudaste o nome da tua rua. Sete que mais parecem setecentos. Dizem que a cada sete anos a vida muda . Melhor, a vida muda-nos. Trocam-nos as voltas, tiram-nos o tapete, roubam-nos o oxigénio, amarram-nos pelos pés de cabeça para baixo e esperam que a gente se erga. Pelas minhas contas estamos na época da viragem. E sabes que mais, pai? Não quero nem saber! Pai, se soubesses o tanto que já vivi, tenho tanto para te contar! Ou talvez nem precise. Eu sei que muitos dos brilhos no meu olhar tiver...

vida de casal em minúsculas.

Não me chocam os divórcios, não me chocam as vidas paralelas, não me chocam as guerras e zangas. Lamento-os apenas. Choca-me o desinteresse.   Como é possível um casal, que outrora se apaixonou e prometeu amar-se e cuidar-se, um dia desistir da vida a dois e optar por uma soma de dias autistas até que a morte os separe. Sem avisos, sem alertas, sem pedidos de socorro, sem vestir coletes de salvamento. Choca-me ver duas almas que não comunicam, não se vêem, não se sentem, mesmo quando viajam juntos no mesmo carro, lado a lado, nos mesmos lugares que outrora ocuparam tão distintamente no auge da paixão. Que choque é ver tantas almas destas. Duas a duas, vagueiam, caminham no mesmo passeio mas cada um deseja um destino diferente. Partilham a mesma mesa num restaurante quando o prato até saberia melhor se estivesse cada um na sua mesa. Falam sem nada dizer um ao outro, melhor dizendo, dão recados ao colega com quem dividem o apartamento, próprios dos afazeres do dia a dia. É o ...

Prefiro não estar presente no meu funeral!

O exercício imaginativo do nosso próprio funeral pode ser um episódio hilariante ou aterrador. Ao imaginá-lo, ainda podemos ser nós a decidi-lo. E se calhar mais vale morrer satisfeito, ainda que ilusoriamente satisfeito. E com esta curiosidade maquiavélica lá começo a imaginar. Ora aqui está um belo programa de sábado à noite, a desfrutar da minha companhia insana! O cenário pouco importa, nesta altura a decoração floral ou os altares talhados a ouro são apenas pormenores invisíveis aos olhos de quem apenas quer perceber o seu significado em vida. É isto. Só imaginamos o nosso funeral porque queremos perceber o que fomos em vida, quem tocamos, a quem fomos indiferentes, ou quem nos puderá surpreender no ultimo leito. E então? Não temos direito a estas interrogações? Nao deveríamos partir com certezas? Não é justo que no fim de tantas batalhas, tantas lutas, loucuras, decepções, indiferenças e amores ou falta deles, possamos levar connosco a certeza clara do que v...

Nós em Amesterdão. (Ou em qualquer outro lugar)

Fomos à Amesterdão comemorar 1825 dias juntos.  Poderia falar em 5 anos mas prefiro contar cada um dos dias, ou melhor, todos.  Os bons, os maus, os duros, os serenos, os que nunca acabam ou os que nunca deveriam acabar. Internamente, quando nos sentamos na mesa da contabilidade do amor, multiplicamos os dias reais por dois. Ao contrário do que nos diz o calendário os primeiros 2 anos valeram por 4, visto termos atingido o record do Guiness ao estarmos juntos, virtude das circunstâncias da altura, 24 sob 24 horas.  Foi a prova da resistência, foi o alicerce mais bem construído desta vida a dois.  Foi o adubo, que nunca mais separamos do regador e que prometemos encher todos os dias.  Quando descobrimos o amor já bem adultos, depois de perdas e erros, somos mais cautelosos, mais tolerantes, mais maduros.  A bem da verdade, se for mesmo amor, ninguém quer falhar outra vez. Portanto, na verdade fomos à Amesterdão comemorar 2555 dias.  Foi em Amesterdã...

Coragem para ser feliz.

Queria dizer-te que também já vivi com o coração em pedaços, que já morei nessa tua nova morada, que já senti o alívio de perder aquilo que já não era meu há muito tempo. Queria dizer-te que sei quanta coragem reservaste para este futuro.  Queria dizer-te que não estás preparada.  Eu também não estava. Mas o desconhecimento pelo menos não alimenta medos. Melhor assim. Depois do alívio, virá a liberdade. Depois da liberdade virá a angústia. A seguir a solidão. A descrença. Prepara-te, vais pairar por aqui algum tempo. Eu queria tanto dizer-te, mas não devo.  Porque nada vai mudar o teu caminho. É teu, só tu podes fazê-lo, caminhando.  Ainda que vás encontrar areias movediças ( oh! tantas ), queria dizer-te, mas não posso. Não tenho esse direito, de querer adivinhar o teu futuro baseada no meu passado carregado de noites tic-tac e solitários cigarros. O alívio de não viveres aquilo que já não queres, será o teu motor, a tua brisa de conforto, a luz que, aqui e...

Quando o meu dia é uma tourada.

Hoje percebi o que é verdadeiramente um espetáculo de tauromaquia.  Exacto. Foi o meu dia. Até acordar tudo permanecia igual, intacto e pacífico. Meia ensonada olhei o céu, alimentei-me normalmente como um toiro a quem é servido um pequeno almoço dito normal, para um dia normal.  Pobre toiro que nunca sabe para o que vai.   Depois de alimentada fui encaminhada até às imediações da arena. Tudo normal. O céu continuava azul. Em silêncio fui caminhando, devagar como um toiro, ganhando balanço para o dia. Abriu-se a porta. Sim, a dos curros para a arena. Dei uns passos distraídamente. O silêncio unsurdecedor da arena que antecedeu a tourada instalou-se de forma tão mordaz, tão acutilante que apenas mereceu o meu maior fingimento de auto-proteção de que tudo estaria bem. Percebi pelo capote do novilheiro que provavelmente o dia na arena prometia. Cavalos lusitanos, cavaleiros a rigor do alto da sua presunção, arrogância vestida a preceito, posturas de desdém de quem...